Reforma projeta funcionamento do Aeroporto de Ilhéus por mais 10 anos
Sejamos práticos. Não esperem tão cedo por um novo aeroporto em Ilhéus. As obras que serão concluídas nos próximos meses - algumas, inclusive, já iniciadas - vão preparar o aeroporto Jorge Amado para atender a demanda regional nos próximos dez anos. "Precisamos, no momento, trocar a síndrome do aeroporto novo pela síndrome do aeroporto viável", disse, com exclusividade ao Jornal Bahia Online, o superintendente da Infraero na cidade, Itaibes Araújo de Paiva.
A proposta inicial da entrevista com o superintendente era desmistificar uma informação chegada à redação do JBO de que há um forte lobby trabalhando junto às empresas aéreas para que os voos de Ilhéus, neste período de desconforto e de obras, sejam transferidos para o aeroporto de Comandatuba, em Una, fato que seria uma "pá de cal" na sobrevivência do "Jorge Amado" e um desconforto para o usuário das duas maiores cidades da região.
Itaibes Paiva não diz nem que sim, nem que não, sobre uma possível transferência. Sai pela tangente, explicando que esta é uma decisão que não cabe à Infraero, mas, sim, às empresas aéreas. Mas ressaltando que não há nenhum argumento técnico que seja favorável à mudança de localidade. "O aeroporto tem condições de continuar funcionando normalmente, mesmo no decorrer das obras", assegura.
Mas a conversa também seguiu a linha dos recursos que serão aplicados nos próximos meses.
O investimento previsto no aeroporto de Ilhéus beira a casa dos 7 milhões de reais. São, pelo menos, quatro grandes obras previstas para este ano. Duas já estão em andamento.
A primeira é o Módulo Operacional de Navegação Aérea, uma estrutura física e tecnológica que vai ajudar no controle do espaço aéreo, até com simuladores de voos para treinamento do pessoal da própria Infraero.
Outra que já está em andamento é a construçâo de uma nova casa de força. "O conforto das nossas instalações está diretamente ligado à energia do aeroporto. Estaremos duplicando nossa capacidade com grupos geradores mais potentes", garante. Os geradores antigos hoje não suportam, sequer, a climatização da área de embarque e desembarque, causando desconforto aos usuários. Esta obra deve ficar pronta em agosto.
As duas outras intervenções que interferirão mais diretamente no cotidiano do aeroporto estão relacionadas ao Módulo Operacional (MOP), esta com início previsto em junho e duração de 180 dias, e a construção de uma Torre de Controle Provisória, ainda em fase de licitação.
O MOP tem o objetivo de desafogar as salas de embarque e desembarque domésticos do aeroporto. O setor de embarque vai ser duplicado, passando a ocupar, também, a área hoje utilizada para desembarque. Quem desembarcar em Ilhéus vai ganhar uma nova unidade, que será construida nas imediações de um hangar desocupado, à esquerda da fachada principal do aeroporto. Em ambos os casos, serão instaladas esteiras maiores e mais modernas e toda a estrutura que garanta o conforto do usuário.
"Hoje, nos horários de pico, chegamos a embarcar, simultaneamente, 300 pessoas por hora", revela o superintendente. Aliás, estes horários de pico são, exatamente, o grande entrave do aeroporto. Ilhéus tem 12 voos diários: um pela manhã e outro na madrugada. Os outros dez ocorrem entre 13 e 17 horas. Resultado: na maior parte do tempo o aeroporto fica sem passageiros. Mesmo assim, no ano passado, o Aeroporto de Ilhéus recebeu mais de 500 mil passageiros e, considerando que, em média, três pessoas acompanham o passageiro durante o embarque, circularam pelas dependências do Jorge Amado cerca de 2 milhões de pessoas.
Itaibes Araújo de Paiva confessa, inclusive, que há interesse das quatro empresas aéreas que prestam serviço na cidade (Azul/Trip, Avianca, Gol e Tam) em ampliar voos para Ilhéus mas, como elas dependem dos slots do sul do País, estes voos teriam que pousar e decolar em Ilhéus nestes mesmos horários de pico e, neste caso, o aeroporto não teria condições de atender. "Isso nos causaria um forte impacto operacional", reconhece.
Baiano de Paulo Afonso, Itaibes Araújo de Paiva tem a carreira da Infraero focada na política de segurança operacional. Talvez por isso não tenha sido bem entendido quando, recentemente, chamou a atenção para a grande quantidade de urubus sobrevoando o espaço aéreo do Jorge Amado. "Não quis assustar nem dizer que o aeroporto estava inviabilizado. Urubu tem em qualquer lugar, concorda? Quis alertar. Sou homem da área de segurança e aviação se faz com segurança e com verdade", disse ao JBO.
A reportagem do JBO, entretanto, acessou a página do Centro de Investigação e Prevenção de Avidentes Aeronáuticos (Cenipa) e localizou que, somente este ano, mais de 60 casos de "avistamento" de urubus nas proximidades do aeroporto foram detectados. Em Ilhéus, também este ano, houve 10 colisões de aeronaves com urubus, um número alto para os padrões locais. A Infraero já identificou, inclusive, focos de lixo nos bairros próximos ao aeroporto e, em parceria com a Prefeitura, vai realizar uma campanha de conscientização com a população do entrono para evitar problemas na hora de pouso e decolagens.
Uma outra informação repassada com exclusividade ao Jornal Bahia Online é que o Aeroporto Jorge Amado vai servir como base alternativa, agora, durante a Copa das Confederações. Caso haja algum problema para pousos no Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, em Salvador, as delegações estrangeiras se deslocarão até Ilhéus.
Para o superintendente da Infraero há também um outro fato que fortalece a permanência dos 12 voos regulares e domésticos em Ilhéus. O município é detentor de todo o controle da avião regional, incluindo a movimentação de aeronaves em Porto Seguro e Comandatuba. "Controlamos ate voos internacionais que acessam o Brasil por esta área", informa.
A reportagem do JBO foi convidada para acompanhar uma operação dos controladores de voo em horário de pico. O trabalho é instigante e desgastante. Hoje tudo é feito entre quatro paredes de concreto e com o contato permanente com os comandantes das aeronaves via rádio. Com a construção da Torre de Controle Provisório, os operadores terão a visualização em 360 graus de todo o espaço aéreo do aeroporto, oferecendo ainda mais segurança nas operações de pouso e decolagem.
Enquanto as obras são tocadas é preciso que a sociedade fique de olho aqui na terra para garantir a manutenção dos voos em solo ilheense. Não é de hoje o sonho de alguns lobistas em viabilizar comercialmente o aeroporto do luxuoso resort do sul da Bahia. Não é de hoje!